Opinião: Atraso nas obras da BR 392: um prejuízo irreversível

Em outubro de 2008, numa reunião almoço com empresários da zona sul e a pré-candidata à presidência da República, Sra. Dilma Rousseff, houve uma firme cobrança da promessa feita pelo  então Presidente Lula de duplicação da BR 392, no trecho Pelotas Rio Grande, cujas obras pareciam permanecer no mundo dos sonhos. A resposta da candidata foi igualmente enfática, confirmando a promessa de realização das obras com a celeridade necessária para enfrentar um problema que se agravava a cada dia.

Depois de mais de quatro décadas de estagnação econômica e decadência social, a zona sul parecia despertar para a importância de uma ação integrada entre suas lideranças públicas e privadas, buscando aproveitar o novo cenário promissor para construir as bases do desenvolvimento regional sustentável.

Em 2007, o movimento Novo Sul, formado a partir do projeto Líderes, de iniciativa do Sebrae, num planejamento regional que organizava diversos trabalhos tecnicamente embasados, apontou uma série de prioridades para viabilizar as potencialidades de nossa terra, trazendo soluções para problemas sociais e ambientais, a exemplo dos que se observam às margens de nossas rodovias, com pessoas sobrevivendo de restos acumulados em lixos a céu aberto.

No amadurecimento deste processo, o esforço das lideranças pela celeridade na duplicação da BR 392 retrata uma preocupação com o violento aumento de fluxo de veículos afunilados entre Pelotas e Rio Grande, expondo a vida de condutores e transeuntes a riscos cada dia mais altos, numa situação insustentável e inaceitável, com o atraso contabilizado em volume de tragédias.

A recente liminar que suspendeu as obras num trecho da duplicação da BR 392, mantendo o afunilamento até a decisão do mérito, eleva uma área de corticeiras e figueiras a um patamar  insubstituível, como se a reconstituição ou medidas compensatórias representassem prejuízo irreversível.

O atraso de obras aprovadas com o embasamento técnico do Ibama, que previa a reconstituição parcial do local afetado, bem como medidas compensatórias, romperá o tripé da sustentabilidade, trazendo um prejuízo social irreversível, contabilizado em vidas humanas perdidas em acidentes.

A zona sul já esperou demais. Centenas de milhares de pessoas sobreviveram durante décadas à margem de uma vida digna, por falta de um desenvolvimento sustentável que propiciasse oportunidades de trabalho, geração de riquezas e tributos para solução das mazelas sociais. O governo fez a sua parte, propiciando a duplicação da BR 392. Cabe à sociedade organizada a responsabilidade de alertar sobre possíveis retrocessos econômicos, sociais e ambientais. A morosidade gerada pela reavaliação jurídica do que já foi avaliado provoca instabilidade em qualquer planejamento, público ou privado. Perder vidas por decisões proteladas é inaceitável. Também para estas pessoas que só recentemente estão sendo reintegradas a uma vida com o mínimo de dignidade, o tempo perdido na solução dos gargalos do desenvolvimento é a diferença entre um futuro próspero ou decadente, como foram os últimos 40 anos.

Neste sentido, é importante que as lideranças públicas e privadas cumpram seu papel no Estado Democrático de Direito, alertando para os riscos do atraso e clamando pela celeridade na análise do mérito de uma questão com repercussões sociais tão relevantes.

Rodrigo Fernandes de Sousa Costa – Presidente da Associação Rural de Pelotas

*Artigo publicado nas versões impressa e on-line do Diário Popular, confira clicando aqui

 

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